quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

FELIZ 2011

EU NASCI UM BEBÊ FEINHO, COM CARA DE MOLEQUE, MUITO BRANCA, CABELOS VERMELHOS, NINGUÉM ME ACHAVA BONITA, FUI BATIZADA COM ROUPA DE MENINO, TIVE MUITOS PROBLEMAS DE SAÚDE... ENTÃO EU ERA CRIANÇA COM 07 ANOS, ME SENTIA FEIA, AMAVA VIVER, AMAVA APRENDER, AMAVA MÚSICA, AMAVA O ABBA, QUERIA SER ADULTA, AMAVA MINHA ESCOLA, ERA MUITO TÍMIDA, TINHA CALELOS COMPRIDOS E ONDULADOS DE COR CAJU, USAVA TRANÇAS, a felicidade vinha fácil, UM SUCO DE CAJU GELADO E BOLINHOS DE CHUVA, EU APANHAVA MUITO DA MINHA MÃE, EU BRINCAVA MUITO COM MINHAS TRÊS IRMÃS, EU FAZIA MUITA ARTE COM MINHAS IRMÃS, EU JÁ ERA FELIZ PARA SEMPRE... DE REPENTE EU ERA ADOLESCENTE, EU ME ACHAVA INTELIGENTE, EU AMAVA ESTUDAR, EU ERA REBELDE, EU ERA MUITO REBELDE, EU ERA BOA ALUNA, EU ERA DISCIPLINA ZERO NA ESCOLA, EU FAZIA MUITA MOLECAGEM, PATINS, bicicleta, ESGRIMA, EU IA AO CARDIOLOGISTA AS TARDES, SONHAVA EM ME TORNAR UMA ARQUITETA, MEU CABELO FICOU CASTANHO, MARROM, fui fazer colégio Técnico, DESENHAVA NAS PAREDES DO MEU QUARTO, EM TODAS OUTRAS QUE EU QUISESSE, LIA MUITO, falava muito palavrão, ME APAIXONEI POR MACHADO DE ASSIS, ME APAIXONEI POR BEETHOVEN, TRAÍ BEETHOVEN COM MOZART, ME APAIXONEI POR ALGUNS GAROTOS, TINHA AMIGAS INCRÍVEIS, amava minhas irmãs, SONHARA EM ME LIBERTAR DOS MEUS PAIS, fui trabalhar...Um dia eu fiz 25 anos, fiz arquitetura, fiz amigos, TRABALHEI MUITO, PAGUEI MEUS ESTUDOS, PAGAVA CONTAS, NÃO ME LIVREI DOS MEUS PAIS, EU CRESCI, amava música, IA A MUITAS FESTAS, USAVA CABELOS CACHEADOS, PERDI A TIMIDEZ, ME APAIXONEI MUITAS VEZES, PINTEI O CABELO DE LOIRO, ESCREVIA PRA UM JORNAL, ME TORNEI KARDECISTA, ganhei um cachorro lindo, AMAVA VIVALDI, AMAVA KUROSAWA, AMAVA VIVER, AMAVA AMAR E SER AMADA, ME SENTIA BONITA... FIZ 30 ANOS, AMADURECI, sofri por motivos que nem lembro, ERA IMENSAMENTE FELIZ, TINHA TODAS AS ESPERANÇAS DO MUNDO, ME TORNEI UMA KARDECISTA PRATICANTE, AMAVA MUITO OS MEUS PAIS, NAMOREI VÁRIOS PRINCIPES, OS PRINCIPES VIRARAM SAPOS, me apaixonei pela liberdade, ERA PROFISSIONALMENTE REALIZADA, DIRIGIA MEU FORD KA DOURADO, fiz viagens, troquei de emprego várias vezes, FIZ TRABALHOS BENEFICENTES, ME TORNEI TOLERANTE E CALMA, ERA IMENSAMENTE FELIZ, ESCURECI MEUS CABELOS, LI MUITO, OUVI MUITA BOSSA NOVA, ME APAIXONEI POR BACH, ME APAIXONEI NOVAMENTE POR MACHADO DE ASSIS, me apaixonei por  tarkovsky e Sokurov, VIVIA SORRINDO, tomei vários porres, ME TORNEI UMA PESSOA EXTREMAMENTE POSITIVA, aprendi a dizer não, CONTINUEI A IR EM FESTAS, ORGANIZEI GRANDES FESTAS, FIZ AMIGOS DE VERDADE, GANHEI TRÊS CUNHADOS, PASSEI A ODIAR ARQUITETURA, sonhei em abrir uma demolidora, VOLTEI A AMAR ARQUITETURA, PERDI MEU PRIMO MAIS QUERIDO, DESFILEI NUMA ESCOLA DE SAMBA,  FIQUEI MUITO AMIGA DO MEU PAI, APRENDI A RESPEITAR A OPINIÃO DOS OUTROS, COMPREI MEU APARTAMENTO, ME SENTIA LINDA... cheguei aos  39 anos, ESTAVA CHEIA DE AMIGOS, ESTAVA IMENSAMENTE FELIZ, CONTINUAVA  A SER KARDECISTA, continuava a desfilar na escola de samba, PASSEI A LER UM POUCO MENOS, fui a uma micareta, ME APAIXONEI, ME DESAPAIXONEI, PERDI MINHA VOVOZINHA QUERIDA, SELECIONEI MEUS AMIGOS, FIQUEI MAIS PERTO DA MINHA FAMÍLIA, fiz duas cirurgias, ASSISTI AVATAR, ASSISTI MAIS UMA VEZ, MAIS OUTRA, sonhava com meu ano sabático, DECIDI GANHAR MENOS DINHEIRO E SER MAIS FELIZ, EMUDECI PARA MUITOS ASSUNTOS, AMADURECI MAIS UM POUCO, MEUS ÓCULOS DE GRAU AUMENTARAM, engordei um pouco, FALO TUDO O QUE PENSO E O QUE SINTO PRA QUALQUER PESSOA, GANHEI AMIGAS ÓTIMAS NO MEU TRABALHO, MANDEI QUEM NÃO É AMIGO PARA “AQUELE LUGAR”,  CONTINUEI A FAZER TRABALHO BENEFICENTE, amo minhas irmãs e cunhados, AMO MUITO MEUS PAIS, ELES ME SUFOCAM, ESTOU ESCREVENDO UM LIVRO, VOLTEI A SER UM POUCO CRIANÇA, NÃO TENHO MEDO DE NADA, SOU A MULHER MAIS LINDA DO MUNDO...
FELIZ 2011 seja lá como for a vida,  porque A FELICIDADE é a gente que faz...

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Diário de Férias Parte II

Diário de Férias Parte II
Hoje acordei ao som agradável do meu despertador mudo de férias, olhei para ele e reparei que estava no ano de 1968. Incrível, será com certeza um dia especial, preciso verificar em minha mala se trouxe roupas adequadas. Levantei e sentei-me à escrivaninha pra redigir uma carta rápida à minha amiga Jane Austen, na tentativa de explicar sem detalhes que não poderia comparecer ao almoço combinado.
Querida Srta Austin, espero encontra-la em plena animação e inspiração ao receber a missiva. (quis dizer tomara que esteja se entretendo nas festinhas idiotas da corte com as fofocas bizarras que alimentam seu espírito literário). É com muito pesar que lhe comunico minha impossibilidade de comparecer ao almoço em Netherfield Park. Lamento profundamente avisa-la momentos antes do festejo, mas motivos familiares são inquestionáveis e, tenho certeza, merecem sua absolvição. Peço que receba minhas desculpas e a promessa de vê-la tão logo re-estabeleça a situação. Saudações L.C.

Claro que não contei a ela que acordei quase 160 anos após a data do convite para o almoço, ela jamais compreenderia. Além disso, podemos adiar por mais um tempo nossos comentários, amenidades e frivolidades a cerca  da mocidade do século que passou.
O telefone tocou e era meu amigo Celso, disse que havia comprado um carro novo, um sedan espetacular, moderno e veloz,  e que gostaria de passear pela cidade com suas amigas mais queridas, rever seus amigos músicos favoritos, e com certeza aquela máquina maravilhosa nos proporcionaria esse deleite.
Aprontei-me rapidamente e logo chegou o rapaz veloz e furioso buzinando seu Aero Willis novinho, marrom e bege, um primor. Entramos no carro e seguimos pelo centro moderno de São Paulo, Viaduto do Chá, o retrato do crescimento da cidade que não pode parar. Abri a janela do carro e coloquei meus olhos para fora, a admirar seus prédios altíssimos, modernos, arrojados, e pensei...esta cidade há de crescer muito ainda.

Estacionamos o carro e caminhamos para a Praça Antonio Prado, sugeri o encontro com os amigos ilustres num bar que freqüento há muito tempo, onde a música é a anfitriã, a cultura o cardápio e o preconceito é barrado na porta. Fomos recebidos pelo proprietário São Jorge com euforia, que nos reservou a melhor mesa, aquela próxima ao grupo de músicos, nenhum pop star é claro, mas todos bastante promissores, acredito eu. O primeiro que avistei foi Antonio Calado, na verdade ouvi lá de fora o som de sua inconfundível flauta, e sua amiga Chiquinha Gonzaga estava num canto autografando seu novo CD, com a música do momento, Atrahente, estourada nas paradas de sucesso. Sou louca por essa música...
Nos sentamos embevecidos com o som delicado, fino, para ouvidos requintados, e logo nos foi servido uma iguaria espetacular da casa do amigo Jorge, um cozido de carne com batatas bem temperado a moda brasileira. Cá pra nós nem acreditei que o Jorge preparasse tal prato, acho que no máximo ele executou o animal e arrancou-lhe o couro e os olhos, e provavelmente a Tia Nastácia deve ter se arranjado na cozinha pra criar o prato pro guerreiro. Mas tudo bem, a final o objetivo do Jorge é matar... a fome é claro.

Lá pelas tantas os compositores mais jovens começaram a chegar, foi um verdadeiro “ Forro-bo-dó” boêmio...Era a era do rádio e todos que brilharam na sequencia, Francisco Alves, Orlando Silva, Nelson Gonçalves, Noel Rosa, Aracy de Almeida, Pixinguinha, Lupcinio Rodrigues, e outros tantos.


Esses moços, pobres moços. Se soubessem o que sei. Não amavam, não passavam...aquilo que já passei.


Pronto! inaugurou-se aí a Rádio Nacional em nossa vida, e nós tinhamos que aproveitar o momento, a vida boêmia irá subtrair a muitos deles em questão de horas, e esses serão degredados ao juizo final, não comprovado, precocemente (sei disso porque frequenteio catecismo).
Foi um dia muito especial, a música é para o ser quase humano muito especial, mas suspeito que esse animal supostamente racional ainda não percebeu isso...
Voltamos para casa na máquina 1968, abraçados pelo inconveniente fantasma do inverno, que andava a assombrar a primavera.
Em casa, de volta ao Planeta Férias tomei um banho rápido e ecológico, trajei-me com meu vestido mais luxuoso, bordado com pedrarias, e fui me deitar em meu colchão de molas absolutamente confortável (e eu mereço isso), e me pus a minhocar:
- O mundo já foi muito mais romântico, foi sim, não sei se mais ou menos verdadeiro, mais ou menos monogâmico, mas já houve mais romantismo sim, e muito melhor externado, soprado pela flauta de Calado, pelo gorjeio apelativo de Lupcínio...Foi na Era do Respeito, foi sim.

Mas as coisas mudam de país para cidade, de mundo para planeta, de religião para região, de cultura para solidão... Ouvi até dizer que num Pais lá longe, na América do Sul, as pessoas amam ao som de bandas como Busão do Tigrão, Tutti quebra Barranco e MC não valho nada.
Mas Graças a Zeus, que aqui no Planeta Férias, ainda é tudo é diferente, aqui o delírio é o pão nosso de cada dia.
Salve Jorge!

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

DIARIO DE FÉRIAS
Hoje acordei pela manhã no meu castelo Medieval, pedi aos meus criados que pegassem a melhor carruagem e trouxessem minhas amigas mais queridas para passarmos o dia juntas, respectivamente Majestade Patty e Majestade Lu. Quando estas aqui chegaram peguei meu tapete encantado e voamos por uma SP pobremente ensolarada. Aportamos o Mosteiro de São Bento para uma breve saudação, fomos recebidas pelos Monges que haviam nos preparado pães quentinhos, e também nos serviram aquele vinho licoroso, doce, encorajador...
Nos despedimos e subimos para a Casa da Marquesa de Santos, mas esta não pode nos receber em virtude da reforma no palacete, que já dura cerca de 10 anos...e blá blá blá, Acho que ele precisa é de um ConstruCard.
Seguimos então para o Pátio do Colégio onde José de Anchieta nos recebeu com muita alegria, mas se desculpou por não poder nos oferecer o famoso café nacional que tanto esperamos...é que as fazendas de café estão em declínio e o produto não tem chegado aos armazéns. Acho que o país dele deve estar em crise, pois o coitado até tentou nos vender um livrinho de poemas...
Nos despedimos e seguimos viagem...Chegamos ao Empire State Building Trash (aquele que foi comprado por uma empresa lá dos Confins da Espanha) e nos deparamos com uma manifestação de cunho socialista, vermelha, assim pouco democrática sabe...então não nos foi permitido subir e observar lá de cima as belezas do Taj Mahal, Anhangabaú, Triangulo das Bermudas... Resolvemos então fazer um vôo pelo Mundo da Moda, curvamos o tapete para um lugar sombrio, onde as pessoas se vestiam com roupas escuras, desenhos de caveiras, músicas barulhentas, tenis coloridos, uma mistura de mau gosto com falta de estilo. Achamos tudo Bizarro, um mundo de cultura nada parecido com o que vivemos em nosso pais, embora, confesso, divertido. Descemos as escadarias da Galeria do Falso Medo e nos dirigimos ao pais vizinho, ao Olido...agendei uma sessão da Ópera Manon Lescaut exclusivamente para mim, Princesa Zafira da Terra de Prata ( ah essa sou eu), e para minhas amigas.
O Sol começou a ficar mais forte, sentimos fome, e me lembrei que um banquete nos esperava no Café Girondino, um restaurante tradicional do centro de São Paulo, uma capital caótica localizada num pais chamado Brasil. O Banquete foi oferecido pelo Tio Eduardo, que nos fez companhia pelas cinco horas que lá permanecemos. Menu para Princesas: escalotes de filet mignon ao molho de pimentas verdes, risoto de palmito e muito vinho, sobremesas diversas, nenhuma “engordativa”. Simplesmente Divino...Saímos de lá bastante alegres, subimos no tapete encantado e solicitamos que nos levasse ás compras. O GPS do tapete indicou o pais Marrakesh, pois lá existe uma rua com um milhão de kilometros de extensão, que é cheia de lojas incríveis, com produtos indispensavelmente supérfluos a preços absolutamente insólitos. Percorremos pacientemente a famosa 25th Street, conhecemos todas as novidades primavera verão 2011, cuja inspiração foi baseada num estudo profundo nas tendências para a imbecilidade e futilidade, que leva o ser que se acha humano a gastar seu mísero tostão, dolar, dracma, peso, ou algo que o valha, com muito lixo que amanhã, se Deus quiser e a educação mandar, será lançado para uma lixeira de reciclável. Um momento assim Capitalista, democrático...Achei tudo muito bonito, as vezes excessivamente colorido, mas nada comprei, pois meu cartão de crédito, com validade até 2014, dourado, daquele que acumula milhas, não é aceito para mercadorias das grifes TABAJARA, que é o que reina em Marrakesh, 25th Street, uma coisa assim globalizada...
Depois de economizar uma fortuna não comprando nenhum lixo sem nota e sem garantia, seguimos cansadas para o Ministério da Identificação para retirada de documentos que comprovam a minha existência na Via láctea, Sistema Solar, Planeta Terra, etc e tal. Chegamos lá no horário agendado, meu nome logo foi chamado, e enquanto as meninas me esperavam foi servida deliciosa água gelada para refrescar a linda tarde de sol. A emissão do documento foi muito rápida, só tive que ir até lá 299 vezes para virar gente, acho até que o tal Ministério deveria mudar seu nome para algo mais apropriado, algo como Ganha Tempo...sabe.
Esqueci de dizer que durante o trajeto passamos por um Edifício de rara magnitude restaurada, de nome Instituto Cultural Banco da Sbornia, (acho que é esse o nome) e lá estavam ensaiando uma peça em nossa homenagem: Mulheres que Bebem Vodka. Por respeito aos anfitriões resolvemos partir, pois no nosso almoço tomamos a bebida errada, nada de Vodka, muito vinho. Ademais achamos conveniente retomar as aulas de russo (que aliás me esqueci de fazer a re-matrícula) para compreender na íntegra o conteúdo patológico da questão.
Depois de uma longa jornada resolvi voltar ao castelo e re-programar minha vida no Planeta Férias, lugar onde raramente consigo me hospedar, mas onde sempre sou recebida com pompa e circunstancia pelos meus súditos.
Agora me encontro em descanso, no catre luxuoso desta rica morada, me refazendo para amanhã continuar a minha doce odisséia (epa, odisséia é outra história), e dividir minhas experiências e impressões com vocês.
Desculpem-me se por vezes não sou assim explícita, é que e discrição me impede...
Saudações
Dasvidania!